Publicidade
Você provavelmente já ouviu falar no termo “bug”
*Por Ana Flavia Fogaça Zilli
Você provavelmente já ouviu falar no termo “bug”. Ele surgiu nos anos 1940, quando Grace Hopper, que trabalhava como analista de sistemas na Reserva da Marinha dos Estados Unidos, no Laboratório de Computação de Harvard, deparou-se com uma interrupção no funcionamento de uma máquina, cuja causa era a presença de uma mariposa, em inglês, “bug” (inseto).
Mas Hopper não foi somente a criadora de um termo usado até hoje, ela desenvolveu a primeira linguagem de programação utilizando palavras-chaves em inglês, a Flow-Matic, e colaborou na criação do Univac I, primeiro computador comercial fabricado e vendido nos Estados Unidos. Ela também criou seu próprio compilador – programa capaz de traduzir uma linguagem textual escrita para uma linguagem de máquina, um código binário que pode ser executado.
Grace Hopper foi a primeira mulher na história a receber um título de PhD em Matemática e, em 1986, aposentou-se como contra-almirante da Marinha dos EUA. Sem dúvidas, sua contribuição mudou os rumos do desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Então, por que quando falamos sobre referências no mundo da inovação, os primeiros nomes das listagens são de homens?
A resposta para esta pergunta nos leva a uma reflexão antropológica sobre os papéis sociais estabelecidos às mulheres desde os primeiros séculos da civilização. Mesmo quando começa a ser inserida nos ambientes acadêmicos e profissionais, as mulheres foram incentivadas a escolherem carreiras que de alguma forma se assemelham ao cuidado com pessoas (remetendo à ideia da maternidade), como pedagoga, professora, enfermeira. O problema não está nas profissões ou na possibilidade da escolha pelas mesmas, mas sim na ideia de que são profissões de “vocação feminina” e do consequente afastamento dessas mulheres do mundo da matemática, engenharias e tecnologias.
Quando a mulher rompe o padrão e busca áreas majoritariamente masculinas, principalmente no mercado de trabalho, outros desafios chegam, como lidar com a própria autoestima e o preconceito por parte de recrutadores. Segundo o relatório Gender Insights Report, publicado em 2018 pelo LinkedIn, as mulheres se candidatam a uma vaga apenas quando preenchem 100% dos requisitos, enquanto os homens já se candidatam caso tenham preenchido 60% do solicitado. A pesquisa também aponta que no momento de procura por candidatos no LinkedIn, recrutadores têm 13% menos probabilidade de clicar no perfil de uma mulher quando ela aparece na pesquisa.
Mas, afinal, como podemos mudar esse cenário?
O papel das organizações é fundamental para o avanço da equidade de gênero no mercado de trabalho, seja por meio de programas efetivos de diversidade e inclusão, bem como a oferta de treinamentos para o desenvolvimento de soft skills e incentivos à educação. Porém, a principal responsabilidade das organizações neste contexto é a equiparação salarial das pessoas pertencentes às minorias.
Além disso, nós como sociedade precisamos quebrar os estereótipos de que o ambiente da tecnologia “não é para mulher”. É necessário educarmos os jovens de maneira que cresçam compreendendo que não existem divergências cognitivas entre gêneros e que todos são capazes de se desenvolverem em qualquer área que tiverem interesse. Ainda, devemos tornar acessível a informação sobre as mulheres que foram e são referências nas áreas tecnológicas durante a formação desses jovens. Podemos ser mais Grace Hopper que Steve Jobs.
*Ana Flavia Fogaça Zilli é analista de Inteligência de Negócios no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI)
Desenvolvido por: Leonardo Nascimento & Giuliano Saito