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Governo se arrisca a incentivar atividades ilícitas ao limitar o acesso à inovação pelos cidadãos. Edição 60 UBER Quando o mercado experimenta um novo produto e o aprova, ele não volta atrás. Para mudar, só quando surgir uma alternativa melhor, ou no caso do novo produto desaparecer. É muito difícil o mercado voltar ao antigo […]
Governo se arrisca a incentivar atividades ilícitas ao limitar o acesso à inovação pelos cidadãos.
Edição 60
UBER
Quando o mercado experimenta um novo produto e o aprova, ele não volta atrás. Para mudar, só quando surgir uma alternativa melhor, ou no caso do novo produto desaparecer. É muito difícil o mercado voltar ao antigo depois de ter adotado o novo.
No caso de inovação, há aqueles produtos que mudam o mercado, chamados disruptivos. Depois de usá-los, as pessoas os acham óbvios e rapidamente se esquecem de como viviam antes deles surgirem. Com estes produtos, são criadas empresas que valem bilhões, que chamamos Unicórnios. Há hoje cerca de 180 Unicórnios no mundo, e eles geralmente chegam nesta condição oferecendo um produto mais barato, melhor, mais fácil e cômodo de usar do que as alternativas disponíveis. O Uber é um exemplo recente, que vale hoje cerca de $70 bilhões de dólares, e que mesmo assim está sendo desafiado por outras empresas mais jovens (startups) que oferecem serviços semelhantes e melhores sob algumas óticas. Há duas nacionais, inclusive, a 99 Taxis e a Easy Taxi, que após crescerem oferendo uma alternativa às rádio taxis, agora oferecem serviços que concorrem diretamente com o Uber.
O Uber provocou uma mudança de paradigma no mercado de transporte individual. Não aceitamos mais ter ir atrás do táxi e muito menos ligar para a rádio taxi, que não cumpre horário e às vezes nem atende o usuário. Nas grandes cidades pessoas optaram por vender seus carros para usar o Uber, pois o baixo preço e a rapidez e confiabilidade compensam. Se não continuarmos usando o Uber, buscaremos um outro serviço, que será mais barato, melhor… A não ser que o governo intervenha e faça aquilo que ele sabe fazer muito bem quando interage com o mercado: besteira.
Há no Congresso um projeto de lei sobre o tema e que, do jeito que está, pode inviabilizar a forma como o Uber e seus jovens concorrentes operam. Influenciados pelos donos de placas de táxis, muitos deles políticos, nossos congressistas acham que podem impedir a sociedade de usar o novo e retornar ao velho. Tenho uma notícia para eles: é impossível. A sociedade experimentou um serviço muito melhor que os táxis tradicionais e não aceitará voltar atrás, e não importa se políticos pouco esclarecidos (e alguns mal intencionados) criem leis neste sentido. “A lei não vai pegar”, como dizem por aí.
Os Estados Unidos criaram há 98 anos uma lei proibindo bebidas alcoólicas, a Lei Seca. Para burlar a lei os criminosos se organizaram como nunca antes. Na época, assassinos sanguinários como Al Capone ficaram famosos ao abastecer, usando os métodos mais violentos existentes, a demanda por bebida alcoólica da sociedade americana. A lei durou 14 anos, o comércio de bebidas nunca parou e as organizações criminosas criadas à época continuam agindo até hoje, vendendo drogas e cometendo outros ilícitos.
Um jovem programador do Rio de Janeiro me disse a poucos dias estar trabalhando num aplicativo similar ao Uber. Surpreendeu-me o alto salário e o local de trabalho, uma comunidade da periferia. Tudo ficou claro quando soube que o aplicativo está sendo feito para veículos “independentes”, como os veículos ilegais de transporte, que no RJ são “protegidos” pelas milícias.
Não tenho dúvida que se o Uber e seus concorrentes saírem do mercado brasileiro e surgir
um serviço equivalente, com segurança garantida pelas milícias ou outros tipos de
bandidos, a população rapidamente adotará o serviço. Os fiscais da prefeitura e os taxistas
não ameaçarão estes motoristas, assim como hoje não ameaçam os motoristas de vans
ilegais do RJ. Assim como ocorreu com a Lei Seca nos EUA, a proibição do Uber pode
fortalecer o crime organizado aqui no Brasil. A má notícia é que o aplicativo estará pronto
em breve.
Fica o recado aos políticos: tentar limitar o acesso aos avanços tecnológicos pode levar ao
retrocesso, ou a coisa muito pior.
Franco Machado
Empresário do setor de Tecnologia de Informação, atualmente é diretor da Assespro/ES,
preside o CONPTEC, Conselho Temático de Inovação e Política Industrial, da Federação
das Indústrias do ES, e representa o Espírito Santo no COPIN, Conselho de Política
Industrial, da CNI em Brasília.
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