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Além, é claro, do alto preço pago em perdas de vidas humanas, a pandemia causou uma série de mudanças econômicas profundas, acelerando exponencialmente o crescimento de alguns segmentos, ao mesmo tempo em que paralisou outros. Um ano e meio depois, já é possível olhar com alguma perspectiva o cenário e identificar muitos problemas que já […]
Além, é claro, do alto preço pago em perdas de vidas humanas, a pandemia causou uma série de mudanças econômicas profundas, acelerando exponencialmente o crescimento de alguns segmentos, ao mesmo tempo em que paralisou outros. Um ano e meio depois, já é possível olhar com alguma perspectiva o cenário e identificar muitos problemas que já existiam, mas que foram potencializados com a disseminação da COVID-19.
Em um primeiro momento, a demanda elevada por equipamentos médicos, seja de proteção para os profissionais da área como para atendimento aos pacientes nas UTIs de todo o mundo, que expôs a dependência de um imenso contingente de países em relação a fornecedores externos, com especial destaque para a China.
Após dezesseis meses de disrupção contínua, o conceito de globalização foi duramente colocado à prova e os grandes produtores mundiais estão registrando agora uma escassez de semicondutores. Eles estão presentes hoje de uma forma tão entranhada em nosso dia a dia que uma análise do banco de investimento Goldman Sachs apontou que esta carência já impactou pelo menos 169 indústrias diferentes, da automotiva à de eletroeletrônicos, passando pela de telefonia e de bens de capital.
Trata-se, portanto, de um segmento extremamente estratégico. Prova disso é que o Governo norte-americano criou recentemente uma força-tarefa para buscar soluções para a falta de semicondutores, um cenário que está comprometendo, inclusive, a recuperação econômica do país.
Estratégico ao ponto de levar a GM, líder de vendas de carros no Brasil desde 2015 com o Onix, a perder o posto para o HB 20 da Hyundai já que o veículo não entra em produção desde o último mês de março, ou seja, há cinco meses. Apenas no setor automotivo, o impacto da falta de semicondutores na produção mundial de veículo será de 3% a 5% do total estimado para o ano.
Aproveitando os benefícios dos Programas e Projetos Prioritários de Interesse Nacional ― PPIs ― instituídos na década de 90 no contexto da legislação de apoio ao setor industrial de TIC (Lei 8.248/91 – Lei de Informática), o Brasil passou investir em uma política pública de capacitação de projetistas e fábricas de semicondutores. Os PPIs instituíram um modelo de incentivo ao setor industrial condicionado à exigência de contrapartida de investimento em PD&I, incluindo a obrigação de realizá-los em convênios com Universidades e Institutos de Pesquisa.
Entre eles vale destacar o PNM Design, programa prioritário sob a gestão da Softex e formulado com o foco na formação, capacitação e especialização de recursos humanos em projetos de circuitos integrados (CI), contribuindo para viabilizar a criação e atração de design houses e startups de projetos de circuitos integrados.
Os investimentos para produzir semicondutores são elevados e o início da produção demanda tempo. Portanto, falamos de um gargalo que não será solucionado no curto prazo. Nesse contexto, é fundamental que o governo incentive uma política de capacitação de projetistas e produção local estratégica que pode ser até transformada em uma plataforma de exportação. É uma indústria que agrega muito em pesquisa e desenvolvimento ao país.
Utilizar toda a experiência adquirida pelas políticas públicas fazendo as necessárias correções de rota, pode ser o ponto de partida para consolidar um projeto de necessária soberania nacional nesta área em que a visão de longo prazo é particularmente crucial.
Diônes Lima é vice-presidente da Softex
Desenvolvido por: Leonardo Nascimento & Giuliano Saito