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Sempre haverá capital para startups que resolvam problemas reais

Startups fazem parte da busca por ativos que trazem mais retorno em menos tempo.

2 de agosto de 2022 11:25
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*Por André Ghignatti

Nos últimos anos, o cenário macroeconômico de alta liquidez no mercado global, apoiado por juros baixos e pela aceleração da digitalização da sociedade, levou fundos e gestores a buscarem por ativos que pudessem trazer maior retorno potencial em menos tempo. Entre esses ativos estavam as startups, que conseguiram atrair centenas de milhões de dólares em rodadas de investimento em sequência.

O início do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos para combater a inflação, porém, mudou radicalmente essa perspectiva para as pequenas companhias tecnológicas. Em meio a um cenário econômico global desafiador, que também envolve um conflito geopolítico ainda em curso entre Rússia e Ucrânia, dois importantes atores da cadeia mundial de abastecimento de energia e alimentos, vimos a significativa perda de valor de mercado de empresas de tecnologia listadas em bolsa.

Diante disso, menos investidores estão assumindo o risco de aportar recursos em empresas ainda muito deficitárias. Como consequência, os empreendedores nesta situação tiveram que tomar decisões dolorosas para colocar suas empresas em águas menos turbulentas e ajustar suas operações, o que passou invariavelmente por um grande volume de desligamentos.

De acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups), a maior onda de demissões nas empresas de tecnologia está concentrada nos unicórnios, como são chamadas as startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais.

Relatório divulgado pela plataforma de inovação Distrito apontou que o volume de investimento em startups brasileiras no mês de maio de 2022 foi 60% menor do que o mesmo mês do ano passado, atingindo US$ 298,5 milhões. Em outro recorte, o relatório registrou o maior número de rodadas early stage, que focam em startups ainda em fase inicial, atraindo aportes menores. As 37 captações nesse formato tiveram tíquete médio de R$ 3,5 milhões.

Essa conjuntura indica que o investimento em venture capital deve ficar mais qualificado, ou seja, devem sair do ecossistema de inovação brasileiro aqueles que se aproximaram com a ilusão do ganho rápido e fácil, permanecendo os investidores mais experientes que de fato conseguem apoiar o empreendedor em toda a sua jornada. À frente de uma das principais aceleradoras de startups do País, sempre defendo que o crescimento seja sustentado com equilíbrio, ponto esse que a pandemia já havia reforçado, isto é, sem que o faturamento e custo operacional sejam muito distantes. Sem dúvida, isto permite correções de rumo bem menos traumáticas.

Do lado dos empreendedores, o fato é que sempre vai haver recurso para quem está propondo uma solução inteligente para resolver um problema real. E, como sabemos, não faltam problemas para serem resolvidos no Brasil. Menos euforia por captação de cheques vultuosos pode ser positivo, ao ajudar os empreendedores a ficarem mais focados no que importa, ou seja, em problemas reais, eliminando ineficiências, fazendo mais com menos e buscando o crescimento sustentável.

Se os ciclos econômicos são parte da jornada de qualquer empreendedor, saber analisar rapidamente as condições do mercado para que possam se adaptar é hoje uma questão de sobrevivência. Nossa expectativa é que as startups continuam sendo uma das principais alavancas da economia em qualquer crise. O olhar e a energia de empreendedores criativos e inovadores, no entanto, serão mais importantes do que nunca.

*André Ghignatti é cofundador e diretor executivo da WOW Aceleradora, maior aceleradora de startups independente do Brasil, que reúne 300 investidores.

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