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Cibercriminosos exploram vulnerabilidades do setor educacional para obter dados pessoais e informações sigilosas de pesquisas, exigindo resgates em troca
Que os criminosos virtuais não poupam nenhum setor da economia para realizar ataques não é novidade para ninguém. O que chama a atenção é que um dos setores mais visados é o setor educacional, segundo revelam dados presentes no Data Breach Investigations Report (DBIR) 2025, relatório elaborado pela Verizon.
O documento detalha que, entre 1º de novembro de 2023 e 31 de outubro de 2024, instituições de ensino foram palco de nada menos que 1.075 incidentes de segurança, com 851 deles levando à efetiva divulgação de dados sensíveis.
“Embora o relatório aponte uma leve diminuição nos números em relação ao ano anterior, o que pode estar relacionado à mudança no perfil de colaboradores e na forma de coleta de informações, a ameaça de ataques na Educação segue em escala preocupante no cenário global”, diz Adriano Vallim, Head de Digital Forensics and Incident Response (DFIR) na Apura Cyber Intelligence.
Adriano Vallim, Head de DFIR na Apura Cyber Intelligence
O perito, especialista em crimes digitais, explica que, de acordo com o report da Verizon, a intrusão em sistemas é, pelo terceiro ano consecutivo, o método mais utilizado por agentes maliciosos para comprometer informações no ambiente educacional. “Esse tipo de ataque é frequentemente impulsionado por grupos sofisticados e organizados, cujo principal objetivo é o ganho financeiro, estando presente em 88% das ações”.
A espionagem também apareceu como uma motivação relevante, relacionada a 18% dos casos. Entre as técnicas empregadas, predominam o uso de malware (42%), investidas de hacking mais tradicionais (36%) e, também em destaque, os ataques de ransomware, responsáveis por 30% das violações. Também foi observada uma significativa incidência do uso de credenciais roubadas, impulsionando 24% dos casos de invasão.
A análise do perfil dos autores das violações mostra que, embora a maior fatia provenha de ameaças externas (62%), especialmente grupos ligados ao crime organizado, o envolvimento de colaboradores internos também chama atenção, representando 38% dos incidentes, entre usuários finais e administradores de sistemas. A natureza dos dados comprometidos reflete a posição estratégica das instituições de ensino: informações pessoais de estudantes, professores e colaboradores foram atingidas em 58% das violações; já conteúdos internos, como pesquisas acadêmicas e documentos administrativos, constituíram 49% dos casos.
Segundo reportado pela FAPESP, em abril deste ano um ciberataque interrompeu drasticamente as atividades do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. A invasão, detectada por um software de segurança cibernética, levou a equipe de tecnologia a cortar toda a comunicação externa e interna da instituição, interrompendo por dez dias pesquisas e, principalmente, a produção de radiofármacos usados no tratamento de câncer no país. O ataque, do tipo ransomware, criptografou arquivos e trouxe uma perda estimada de pelo menos R$ 2,5 milhões, além de um impacto operacional ainda em avaliação. Foram deixadas mensagens exigindo resgate em bitcoin, mas a direção do instituto não cogitou negociar.
Casos semelhantes têm se multiplicado em órgãos de pesquisa do país, incluindo o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que viram seus sistemas paralisados ou dados vazados nos últimos anos. Esses vazamentos de dados, como os de funcionários, alunos e pesquisas protegidas por sigilo, ainda preocupam gestores, e é um desafio permanente: manter o funcionamento dos principais centros de ciência e desenvolvimento brasileiro depende, cada vez mais, da eficácia dessas barreiras contra ataques virtuais.
“O relatório da Verizon reforça a constância dos padrões de ataque e alerta que, apesar dos investimentos recentes em cibersegurança, as instituições educacionais continuam vulneráveis, exigindo ação coordenada de gestores e órgãos públicos”.
A América Latina, sozinha, respondeu por 657 do total dos incidentes registrados e 413 vazamentos confirmados analisados pela Verizon, com o Brasil tendo participação destacada graças à colaboração da Apura Cyber Intelligence na coleta dos dados para o relatório anual. “A recomendação não é só manter, mas reforçar estratégias de proteção e conscientização, visto que a criatividade dos cibercriminosos cresce na mesma medida em que se ampliam os recursos digitais do ensino e da pesquisa”, conclui o especialista.
Assessoria
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